sábado, 14 de agosto de 2010

De olhos fechados...



Ao Overjoyed que me ensinou a real sensação de "ficar sem ar"...
DEDICO
(Trilha sonora sugerida"Overjoyed", versão Alcione)
Olhos fechados... não precisava de luz ao meu redor ou imagens para descrever aquelas sensações... sentia-me sendo jogada deliciosamente de um lado para outro, sem solavanco algum, por ondas de águas mornas. No ar, música ensurdecedora, cheiro de perfume e cigarro e diversas possibilidades. Adorei aquele corpo, aquelas mãos, aquelas forma de olhar como quem despe o outro. Estive nua a noite toda para ele. A cada investida para tentar me dizer algo e conseguir vencer a barreira do som ambiente, mãos deslizavam pelas minhas costas e lábios tocavam ora meu pescoço, ora meu rosto. Vontade de arfar, de devolver aquele olhar. Eu não podia. O lugar não me permitia, as pessoas não me permitiam, o bom senso não me permitia e a minha concentração, que aquela altura da noite já deveria estar escondida em algum recôndito inóspito do meu cérebro, não me servia de cúmplice. Deixei a música me invadir. Fechei os olhos novamente e as batidas melódicas germinavam passos compassados, que me davam vontade de rodopair sozinha, em off para tudo aquilo que me cercava. Mas, os olhos fechadas me traíam sempre. Novamente aquelas imagens daquele corpo, olhos, sorriso e mãos se misturavam com o cheiro do cigarro, de perfume, da bebida e tudo o que eu desejava era uma mesa e um pouco de silêncio para mostrar o quão habilidosas minhas mãos são. Compreendi, naquele momento, o que exatamente significa a palavra desejo e entendi que a minha vida toda a usei de maneira inadequeda. De repente, sem que eu realmente pudesse perceber, um braço me envolveu pela cintura e me puxou para perto de um corpo. A força e a velocidade foram tamanhas que senti meus seios se chocarem contra aquele peito e meu lábios roçaram nos dele. Não ousei abrir os olhos para identificar o meu raptor. Reconheci pelo cheiro, pela forma como me apertava insistentemente, fortemente e deliciosamente contra o seu corpo. Até o fim daquela música que poderia ter durado um pouco mais que a eternidade, mãos deslizavam nas minhas costas, quadris, subiam pela nuca, me apertavam contra o corpo dele... seu rosto se esfregava no meu e um novo aperto me puxava para junto dele. Poderia resumir a sensação: sem ar. Não conseguia respirar. Em silêncio, ainda de olhos fechados, deixei que ele me guiasse, que me apertasse e que fizesse tudo o mais que desejasse naquele momento. Estava entregue. Perdi o controle da situação, perdi a razão, perdi a vontade de sair dali e, principalmente, vasculhei minhas entranhas em busca de algo, qualquer coisa por mais ínfima que fosse, que me injetasse, por uma fração de segundos, um decigrama de bom senso para me desvencilhar, mas, a única coisa que consegui pensar foi em Overjoyed. Tudo o que queria era devolver cada investida, empurrá-lo com força contra a parede até ouví-lo deixar escapar um gemido que deflagrasse todo o resto. Queria aquela boca na minha, mãos me segurando pelo cabelos, minhas unhas cravadas naquele peito e apertos nas coxas, braços e bunda que deixariam hematomas no dia seguinte. Queria medir forças, minha coxa entre as pernas dele, minhas roupas rasgadas pelo chão e aquele homem me mostrando sem se esquivar, tudo o que ele deixou implícito a noite toda. Para meu alívio, com a mesma velocidade que ele me tomou para si, ele me deixou no meio do caminho. A música terminou. Abri meus olhos e consegui recobrar a lucidez que perdi logo no início da noite, quando de olhos abertos enxerguei os olhos dele e fechei os meus para não ver mais nada.
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