quinta-feira, 25 de março de 2010

Ele... ainda!



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Ele ainda desenha em meu corpo todos os caminhos que outrora trilhei sozinha. Em mim, marcas das muitas noites em claro e dos respingos de lágrimas que se fizeram rios furiosos em dias de tormenta. Amo esse homem com toda a volúpia e luxúria com as quais se é possível amar um corpo entrelaçando nossa alma. O cheiro dele percorre meu corpo cada vez que arfo, como quem busca um fragmento de orvalho suspenso no ar. Meu corpo queima cada vez que os momentos em que não sabia onde minhas mãos terminavam e as deles passeavam sobre a minha pele reaparecem como para aqueles que assistem a um roteiro de filme já repetidamente visto. Busco nos meus labirintos os pedaços que restaram de mim num desespero quase esquizofrênico para descobrir o que restou de quem eu era e o que é possível se fazer com as peças de quebra-cabeça que hoje tenho em comigo. Sim, aquele homem que me teve nas mãos quando corpo e nos olhos em alma ainda grita em cada sonho e desejo que deixei para trás. O amor odiado e o ódio amado se fazem amanhecer nos meus dias e sentam para tomar o café amargo das cinco da tarde que sempre degusto com melancolia. Eu poderia fumar um charuto cubano para acompanhá-lo, mas me amedronta sobremaneira que a fumaça se torne névoa e mais um motivo para eu não enxergar o que está do outro lado. Quando meus olhos se fecham e eu viajo naquele passado recente-distante, ainda sinto o peso daquele homem debruçado sobre o meu corpo, se fazendo marcas e roçando em meus seios aquela pele branca. Ainda desejo aquela língua sugando minha alma e varrendo minhas enseadas, vasculhando cada milímetro das minhas entranhas. Ainda sinto a voluptuosa sensação de "sou dele" mistura a um "apenas até o próximo gemido". O fato é que aquele homem, aquele mesmo das histórias de contos de fadas que estão mais para contos porque as fadas foram censuradas, ainda se faz tempestades no meu corpo. Saudade se tornou lugar comum. Me restaram apenas o café, o charuto cubano se um dia eu resolver fumá-lo, um punhado de sonhos despedaçados e um mapa com inúmeros caminhos que posso seguir. Por enquanto, pego emprestado a poltrona do inconformismo e cruzo as minhas pernas. Vou misturar um pouco de uma bebida qualquer no café. Lucidez é a última coisa que eu preciso nessa noite que até o universo chora e eu posso ouví-la pela janela enquanto escrevo sobre ele... ainda.

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