sábado, 20 de novembro de 2010

Minha metade é um Ele inteiro


-

Ao meu “Rainbow”, DEDICO.
Trilha Sonora Sugerida “Hallelujah”, versão de Alexandra Burke.



Sempre imaginei que minha alma gêmea, se houvesse uma para mim ou, ao menos se elas existem, seria um homem alto, com barba por fazer, título de protetor do ano e portador de uma perfeição e paciência incorrigíveis. Almas gêmeas eram, assim, o meu conceito de amor homem-mulher como unidade afetivo-sexual e ponto final. Essa idéia de amor romântico como salvação para a existência humana veio se desconstruindo para mim nos últimos anos como conseqüência de tudo o que vivi até aqui e do que fui me transformando a partir dessa experiência. Amor é amor, venha de onde vier, me leve para onde levar, desde que me torne alguém melhor do que sou. E assim tem sido desde que permiti que Ele entrasse em minha vida...

[...] o encontrei vagando translucidamente... era a imagem das urgências incertas pintadas em tinta óleo. Boca, olhos e mãos guiando desejos de toda sorte que ele, possivelmente, nem compreende. Ele quer tudo, e muito, e sempre e mais com uma fome que me deixa desconcertada. É essa dualidade tão crua constituída por ingenuidade boa e luxúria agressiva que me prende. Cada detalhe dele é pensando: um cheiro bom que nunca tem fim, uma infinidade de afagos que me desarmam, lábios tão bons de serem tocados e uma carência pueril. Todo esse conjunto poderia me causar uma inquietude desoladora, mas, contrariamente, me traz incomensurável paz. É reconfortante ter ao lado uma alma atormentada que não ousa perfeição. Ele, de fato, nem cogita essa possibilidade. Suas intenções são outras. Sua busca, a mola propulsora do ir diante a cada raio de sol que se insinua pelas vidraças do seu amanhecer.

Há tanto nele que eu repudio, odeio, evito, me desvencilho. Aquela irresponsabilidade que me sobe em ira pela espinha e me impele a tentativas estéreis de compreensão. A mais completa falta de auto-cuidado, auto-preservação e auto-controle. A mais perfeita inabilidade de projetar um futuro fazendo da vida um vôo kamikase. A ausência de compreensão de que quando ele se fere, a dor é partilhada com os que o amam. Aquela visão míope, quase cega, que ele possui sobre si mesmo e que o reduz a uma partícula ínfima perto da imensidão que ele verdadeiramente é. E, apesar disso, eu o desejo. E desejo de forma que ele não compreenderia.

Desejo esse desejo de mais, essa pressa sem fim, aquele cheiro que fica nas minhas roupas e no meu corpo sempre que ele me abraça. Os beijos sem língua tão duradouros e ternos que provo de olhos fechados sem lascividade alguma, sempre tão envolta em um romantismo de filmes de época, mesmo que, às vezes, sinta vontade de mais, de ir além, de perceber nuances que só outros beijos são capazes de evocar.
Eu o desejo.
Desejo minhas mãos envolvendo seu rosto enquanto nos olhamos naquele silêncio em que nada dizemos e tudo é dito em um franzir de cenho agressivo com olhos em chama de raiva ou com um esmaecer de sorriso.
Eu o desejo.
Desejo em cada abraço longo em que sou envolvida entre braços e mãos e pele e um pouco de saliva que me dão a mais perfeita sensação de sou dele, daquele momento, daquele amor que lógica ou racionalidade nenhuma seria capaz de explicar.
Eu o desejo.
Desejo ser embalada sempre e mais, porque quando dançamos o primeiro passo é só o desencadear de outros tantos, em qualquer ritmo, onde quer que estejamos.
Eu desejo aquela pele branca, aquele ar irresponsável, o cheiro de cigarro que fica impregnado em meus cabelos, roupas e no gosto dos seus lábios. Desejo aquela voz branda que massageia meus ouvidos sempre que conversamos em cada fim de noite. Desejo, antes de tudo e para além disso, essa paz que invade minhas entranhas e me faz plena, apaziguando minhas guerras, desarmando meus fantasmas de uma forma tão avassaladoramente sã e assustadoramente terna que nada mais necessito do que aquela presença.

Eu sei que isso amor. Aprendi o que era. Nele, em nós, em mim, nada é obrigatório, tampouco proibido. Cada olhar tem uma carga de honestidade que não pode ser medido. Cada beijo, o sentimento do mundo inteiro. Em nosso silêncio encontramos respostas que nossas palavras não são capazes de verbalizar. Em nossa amizade tão afável e inteira, achei meu cavaleiro andante que montou em meu cavalo e seguiu comigo. E porque eu sei que isso é amor, eu não peço nada, absolutamente nada, em troca, porque ele, generosamente, me dá muito mais do que eu preciso.

-