sábado, 16 de julho de 2011

Devassado





Ao meu "Peregrino", DEDICO.

Trilha Sonora Sugerida "Autumn Leaves", versão Edit Piaf



Agora que te fostes, volta.

Há coisas deixadas pelos caminho.

Restos de pele e de minh'alma.

Partes de um eu inteiro agora despedaçado.


Agora que te fostes, volta.

Recolhe minha dor e dúvidas.

Tudo aquilo que eu não precisava entender.

Tudo o que agora me corrói.


Agora que te fostes, volta.

Carrega contigo essa dor.

Pois afirmo-te que não é minha.

Pois nunca esteve aqui até tua partida.


Agora que te foste, volta.

Recolhe teus livro, minha mágoa.

Junta tuas roupas e minhas lágrimas.

Não sei como guardá-las na minha caixa de pandora.


Agora que te fostes, volta.

Devolva meus sorrisos ensolarados.

Mesmo nos dias nublados.

Mesmo nas noites sem lua.


Agora te fostes, volta.

Diga-me o que faço desse amor.

De minha devoção inabalável.

Do meu coração destroçado.

Dos dias que não voltam mais.


Agora que te foste, volta.

Faça-me entender o porquê.

O quando? O onde? O amanhã.

Porque de mim, só sei, o que não mais sou.


E só assim, quando tiveres recolhido,

Devolvido,Esclarecido

Poderei te dizer:

Agora que te fostes, vais...

quarta-feira, 13 de julho de 2011

DAS CARTAS QUE NUNCA MANDEI: Sobre a Arte de Perder



Ao meu Loser, DEDICO.

Trilha Sonora Sugerida "Moonligth Sonata", versão Alicia Keys.


[...] já perdi muita coisa nessa vida. Coisas que aspirei ter e jamais tive. Coisas que desejei ter e, quando tive, foram arracandas de mim. Coisas que nunca quis possuir e que me foram dadas e tiradas (parte boa da piada). Perco coisas todas os dias, sobretudo coisas pequenas por ser absolutamente dispersa, incorrigivelmente desastrada e inadequadamente esquecida. E, apesar disso sempre consegui viver com minhas perdas porque perder coisas, às vezes, é uma dádiva. Há quem afirme categoricamente que quando a gente perde algo ou algo que nos pertence se quebra, é porque já dissipou toda a energia boa que possuia e por isso deve circular por outros lugares para que possa se recarregar e fazer bem a outrem. Que seja...
Os meus lamentos, nesse sentido, sempre foram pelas perdas daquilo que não se pode palpar: amor, bondade, empenho, luta, amizade. Essas sim, nunca deveriam ser retirados de quem as merece ou precisa delas. É fato que para algumas pessoas um amigo a mais, um sentimento a mais, um afeto e mais é só uma coisa "a mais" pra se administrar. Pra mim, não. Me recordo de semanas inteiras da mais profunda tristeza quando vi minha filha partir, quando vi meu (pseudo)amor partir, quando vi meus avós partirem, quando dei o último adeus a um punhado de pessoas que considerava como amigos e que tive que ver partirem também.
Acho que viver sozinho é impossível, afinal de contas, mesmo para os mais ranzinzas é necessário ter alguém para, no mínimo, xingar. E, como não sabemos como será o dia de amanhã e tampouco onde estaremos, com quem estaremos e onde estaremos, desprezar quem nutre por nós um afeto verdadeiro é, no mínimo, burrice. Nem tudo na vida é um jogo, nem todas as pessoas têm segundas intenções, nem todos os nosso desejos serão realizados e, aceitar isso, é inteligência, discernimento e maturidade, respectivamente.
Não insisto muito tempo e nem emprego muito esforço para os que não considero especiais. Brigo, zelo, perco a cabeça, cuido e brigo por um punhado de vezes com os que me são caros. Não fique triste se isso acontecer a você. Você se tornou parte dos meus dias e das minhas preces e não um dos meus demônios.
Aprendi (e queria te ensinar) que perder nem sempre significa "não ganhar"... perder, muitas vezes, é sinônimo de "não querer ganhar". Ouvi outro dia você dizer que "fez birra, como criança que não tem o desejo atendido" porque não cedi aos teus caprichos. E você, de maneira infantil e boba, nem percebeu que me negar a ceder foi a maior forma de afeto e carinho desse mundo porque se eu tivesse de conceder aquele desejo a alguém, seria a um desconhecido de quem eu pudesse sentir nojo e, em seguida, me afastar em definitivo.
Eu teria muito mais a te oferecer segurando na sua mão, sendo uma companheira de partilha, de conversas em fins de noite, do que em sua cama. E você, apesar de eu ter dito isso de todas as formas, não só não quis entender, como iniciou um jogo bobo de fingir que eu não estava ali, que não havia ninguém do outro lado.
E, como nos jogos enfadonhos, alguém sempre se cansa porque coisas assim não só são desgastantes como perdem a graça com o passar dos tempos. Se eu entrei na sua vida, havia um motivo, mas, você se perguntou qual o motivo de eu sair dela? Não, acho que não... talvez porque você não considerasse a possibilidade de eu sair.
Se eu posso te dar um conselho bobo nesse momento em que subo vagão do trem que me levará para longe de ti, seria esse: às vezes nos sentimos mais amados quando estamos ao lado de pessoas que olham para nós como pessoas e não como um alguém qualquer. Às vezes, só às vezes, quem mais nos ama ou nos quer bem é quem faz, justamente, o oposto daquilo que desejamos. Você poderia ter me conquistado todos os dias e das mais diversas formas e, no entanto, jogou cada oportunidade no lixo. Você deve saber o que faz, já que, até mesmo crianças com idade cronológica compatíveis com a infância, sabem a importância de sentimentos verdadeiros...
De você sentirei saudade, mas, o que uma saudade boba de alguém que quis ser um perdedor, ou melhor, daquilo que nunca tivemos?


Cidade Qualquer, 14 de Julho de 2011.


A bobona de 31 anos.