quarta-feira, 24 de setembro de 2014

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EM CASA




Ao meu Daddy, DEDICO.
Trilha sonora sugerida "Daughters", versão John Mayer.




02:31 a.m. 
Há uma pilha de provas e outras coisas que eu preciso encaminhar... mas, há um cansaço tremendo pela noite não dormida e por infinitas interrogações que se acumulam indiscriminadamente. Estou tentando esquadrinhar cada uma dessas enternecedoras e entorpecedoras sensações que me levam de um lado para o outro em um movimento ora furioso como o mar na arrebentação, ora cálido e leve como a brisa no entardecer.
Ele chegou não como se chega em um boteco na esquina pedindo um café morno que será bebericado aos poucos, sem apreciação ou contemplação. Ele não ousou se insinuar. Ele irrompeu, naquela intimidade de quem já está aqui há 20 anos, invandindo meus espaços, meus tons de eu, minha madrugada insossa e chorosa pelo dia pesado que, finalmente, ganhou cor com sua chegada.
Ele nem sabe que eu apreciei cada sorriso. O jeito de franzir o cenho e mexer as mãos enquanto me observa. O corpo marcado por uma camiseta justa e uma cueca escura que vi de relance em sua busca por café. O levantar as sobrancelhas antecipando um sorriso ou uma interpelação. Aliás, delícia de presença em suas observações. E, em 10 minutos de escuta, "Daughters" se espalha pelo meu quarto e uma meia de dúzia de lágrimas perfaz caminhos até a minha boca. Pensei, então, que talvez o seu "não chore" fosse uma antecipação para o que iria acontecer.
Ai, eu o quis. 
O quis aqui em meu corpo com suas mãos gigantes me apertando. Quis sua voz que se abranda quando ele quer ser sutil. O quis vestido para o trabalho, chegando em casa impecável, com resto de perfume na nuca e no pescoço. Sentá-lo em uma cadeira no meio do seu quarto frio, um tanto de penumbra, um jogo de luz qualquer. Caminhar até seu colo só de camiseta ou uma camisola preta, sem calcinha e me acomodar em cima das suas coxas.
Ai, eu quis.
Quis minhas mãos segurando suas bochechas enquanto trago o resto de perfume e o cheiro de pele que existe ali. Queria olhar em seus olhos e queria que ele entendesse que aquilo era entrega. Queria beijar salpicando cada cantinho do seu rosto e sentir, de olhos fechados, dedos marcarem minha pele por baixo da camisola. Não me importaria com marcas vermelhas ou hematomas. Queria-o demarcando território, me tomando pra si, investindo em meus seios agora de maneira mais sutil do que suas frases expostas na tela do computador.
Ai, eu o quis.
Naquela mistura de carência pueril, de desejo, de reconhecimento de almas, de tentativa sôfrega de entrega. Queria puxá-lo pela gravata para sua cama, deixá-lo entre as minhas coxas. Queria-o desvendando cada pedaço que me faz gemer, que me faz querer, que me faz temer. Queria seu corpo pesado em cima de mim, dentes cravados nas minhas costas, urgências, suspiros conjuntos, um tanto de dor e de suor. Queria-o me subjugando pelo meu desejo, se permitindo pelo seu. Queria-o precisando de 30 mãos e 40 bocas e mil sexos para saciar minhas vontades.
Ai, eu o quis.
Queria seu sexo em riste, firme, quente preenchendo cada espaço de ausências que há um mim. Queria mãos no meu cabelo. Ouvir o que grita seu silêncio em meio a esse partilhar de corpos. Queria-o alegre e moderato, enfurecido e raivoso, tranquilo e melodioso. E queria mais de suas mãos, sua língua e lábios partilhando saliva e promessas enquanto Mayer canta a canção que ele me deu. Enquanto ele desvenda o resto das minhas entranhas.
Ai, eu quis.
Ahhhhhhhh... Eu o quero....
02:59 a.m.

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