quarta-feira, 24 de setembro de 2014

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EM CASA




Ao meu Daddy, DEDICO.
Trilha sonora sugerida "Daughters", versão John Mayer.




02:31 a.m. 
Há uma pilha de provas e outras coisas que eu preciso encaminhar... mas, há um cansaço tremendo pela noite não dormida e por infinitas interrogações que se acumulam indiscriminadamente. Estou tentando esquadrinhar cada uma dessas enternecedoras e entorpecedoras sensações que me levam de um lado para o outro em um movimento ora furioso como o mar na arrebentação, ora cálido e leve como a brisa no entardecer.
Ele chegou não como se chega em um boteco na esquina pedindo um café morno que será bebericado aos poucos, sem apreciação ou contemplação. Ele não ousou se insinuar. Ele irrompeu, naquela intimidade de quem já está aqui há 20 anos, invandindo meus espaços, meus tons de eu, minha madrugada insossa e chorosa pelo dia pesado que, finalmente, ganhou cor com sua chegada.
Ele nem sabe que eu apreciei cada sorriso. O jeito de franzir o cenho e mexer as mãos enquanto me observa. O corpo marcado por uma camiseta justa e uma cueca escura que vi de relance em sua busca por café. O levantar as sobrancelhas antecipando um sorriso ou uma interpelação. Aliás, delícia de presença em suas observações. E, em 10 minutos de escuta, "Daughters" se espalha pelo meu quarto e uma meia de dúzia de lágrimas perfaz caminhos até a minha boca. Pensei, então, que talvez o seu "não chore" fosse uma antecipação para o que iria acontecer.
Ai, eu o quis. 
O quis aqui em meu corpo com suas mãos gigantes me apertando. Quis sua voz que se abranda quando ele quer ser sutil. O quis vestido para o trabalho, chegando em casa impecável, com resto de perfume na nuca e no pescoço. Sentá-lo em uma cadeira no meio do seu quarto frio, um tanto de penumbra, um jogo de luz qualquer. Caminhar até seu colo só de camiseta ou uma camisola preta, sem calcinha e me acomodar em cima das suas coxas.
Ai, eu quis.
Quis minhas mãos segurando suas bochechas enquanto trago o resto de perfume e o cheiro de pele que existe ali. Queria olhar em seus olhos e queria que ele entendesse que aquilo era entrega. Queria beijar salpicando cada cantinho do seu rosto e sentir, de olhos fechados, dedos marcarem minha pele por baixo da camisola. Não me importaria com marcas vermelhas ou hematomas. Queria-o demarcando território, me tomando pra si, investindo em meus seios agora de maneira mais sutil do que suas frases expostas na tela do computador.
Ai, eu o quis.
Naquela mistura de carência pueril, de desejo, de reconhecimento de almas, de tentativa sôfrega de entrega. Queria puxá-lo pela gravata para sua cama, deixá-lo entre as minhas coxas. Queria-o desvendando cada pedaço que me faz gemer, que me faz querer, que me faz temer. Queria seu corpo pesado em cima de mim, dentes cravados nas minhas costas, urgências, suspiros conjuntos, um tanto de dor e de suor. Queria-o me subjugando pelo meu desejo, se permitindo pelo seu. Queria-o precisando de 30 mãos e 40 bocas e mil sexos para saciar minhas vontades.
Ai, eu o quis.
Queria seu sexo em riste, firme, quente preenchendo cada espaço de ausências que há um mim. Queria mãos no meu cabelo. Ouvir o que grita seu silêncio em meio a esse partilhar de corpos. Queria-o alegre e moderato, enfurecido e raivoso, tranquilo e melodioso. E queria mais de suas mãos, sua língua e lábios partilhando saliva e promessas enquanto Mayer canta a canção que ele me deu. Enquanto ele desvenda o resto das minhas entranhas.
Ai, eu quis.
Ahhhhhhhh... Eu o quero....
02:59 a.m.

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sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

O não dito...




Ao meu "Vinho do Porto", DEDICO.
Trilha Sonora Sugerida "Todo sentimento", versão Ney Matogrosso.



Adoro velas e vinho do porto. E nem tive tempo de contar. Falei por alto, de maneira um tanto tímida, um tanto despretensiosa, sobre meus desejos de outrora. Queria mesmo ter rasgado o verbo e dito cada palavra lasciva que pensei e cada pensamento doce que tive. Não dava. Nem deu. Foi tudo tão rápido que não tive, sequer, tempo para pensar em consertar os estilhaços deixados pelas palavras disparadas como uma flecha que acerta o alvo e acerta aonde deveria errar. Ainda olhei para o chão para os pedaços de frases e palavras soltas que restaram e não tive coragem de me ajoelhar para juntá-las. Ainda continuo olhando...
Miúda, cabisbaixa, não reativa... talvez seja que eu possa resumir como estou e me sinto enquanto ouço minhas unhas se lançarem nas teclas do meu notebook e Ney Matogrosso canta no meu ouvido. E tenho tantos talvez para falar porque as certezas me fugiram quando dicionário e loucura passaram a ser mais importantes que as sensações. Vazio, transparência, ausência de mim... e tudo isso juntos e um pouco de não sei mais o que.
Olhei para ele enquanto descrevia sobre seus desejos e ria com uma delicadeza gentil de quem percebe no outro a necessidade de se fazer entendido e medido. Imaginei a cena com riqueza de detalhes suas urgências, o estado que me descreveu, o "whiskito" e talvez um maldito cigarro empunhado entre dedos e tragado rápido e profundamente. E eu quis... e quis mais... e como quis... e como quis dizer e calei. Imaginei aqueles 1,84m debruçado sobre mim em uma cama gigante, desenhado com a ponta do indicador alguns arabescos em minhas costas, duas taças de vinho largadas no chão e aquele cheiro de cigarro impregnado em meus cabelos.
Nem cheguei a contar que o vi conversando e gesticulando com mãos imaginando serem elas como encantadoras de serpente e nem do momento em que ele me abraçaria por trás, afastaria meus cabelos e beijaria meu ombro direito esperando minha reação e a palavra que abre todas as portas: faz! Ele faria, e eu deixaria e nos final a gente imploraria por mais... chega a ser rima e agora nem graça mais tem. E rimou de novo... e não vou usar mais nenhuma palavra.
(...) se eu tivesse tido tempo, eu teria dito o quanto ele estava significando pra mim, desde dezembro, quando tudo deixou de significar... sem vinho e nem vela, durmo sem gostos na boca e sem luz na minha noite.

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Lá do alto


Ao meu "Vinho do Porto", DEDICO.
Trilha Sonora Sugerida "Quem sabe isso quer dizer amor", versão Bruna Caram


(...) do velho mundo, um peixe salgado, um fio de azeite
Oliveiras, pastéis só de Belém e vinhos vindos do porto.
Anos transcritos em 16 a mais que os 32.
... Um cheiro de charme despretensioso
E eu preciso olhar para cima sempre
São mais 1 vírgula 84 e uma extensão de cabeça para fitar olhos alheios
Cigarros, um rosto ávido e em mim um tanto de inquietude
Um muito de curiosidade.
As mãos que estarão no fogão, o desafio em busca da boneca
De pano, com manto, sem pranto.
E mundo lá sempre a rodar...
Três horas ora avançadas, ora atrasadas.
O amanhã como consequência do hoje
Como esquecimento do ontem.
Um nota de almíscar, um leve tom de canela.
O último andar entre o céu pontilhados de luzes
E um chão morno do fim de tarde
Sutilmente escrito com letras em carmim.

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terça-feira, 8 de novembro de 2011

Muito além do Querer




Ao meu Diamante, DEDICO.
Trilha Sonora Sugerida "Make you feel my Love", versão Adele



Há muitas formas de se tocar alguém... Pessoas são mesmo parecidas com tecidos: umas mais delicadas, permeáveis, outras mais resistentes. O mistério parece ser, apenas, achar o ponto certo para não afogar ou deixar desidratar até a morte. Para pessoas inábeis como eu com as palavras, os gestos, com os afetos, essa busca é como desbravar mares revoltos em uma jangada de jacarandá. E agora falo sobre mim, na primeira pessoa do singular, pessoa física. Adoro minha liberdade de expressão, de falar e sentir sem muita responsabilidade sobre os meus afetos dando a eles o peso que eles devem ter: o do ar. Em outros tempos achei que essa era uma má idéia. Hoje aprendi que o sentir é como estar no meio de um vendaval contemplando o horizonte com os pés fincados na areia e as ondas se lançando contra a rebentação e achar que tudo, embora caótico, seja perfeito já que os cabelos ficam em desalinho rodopiando como uma bailarina na caixa de música e as roupas leves sacodem como as velas de um barco perdido em alto mar. E, tem sido assim a minha vida desde que o caos se fez, as trevas se dissiparam e eu sentei no chão por meses procurando o jeito certo, a força e a coragem para recomeçar e remontar cada pedaço destroçado da minha vida.

Nesse meio tempo muita gente passou pelo porto da minha ilha deserta. Umas tantas ficaram, outras partiram, muitas se fizeram moradia e minhas lacunas foram sendo preenchidas por aquilo que eu mais senti e depois, eu eu mais neguei: o amor. Venho sendo amada das mais diversas formas, com as mais profundas e superficiais intensidades, os mais complexos tons, gostos e cheiros e pelas mais diferentes pessoas. Precisaria me debruçar sobre o chão, no mais respeitoso tom de reverência possível para agradecer ao universo cada remédio que ele me deu para curar as feridas que a vida me causou. Talvez mais importante que isso, contudo, seja reconhecer que eu precisei sentir a mais mutilante das dores para entender qual é o mais importante dos sentimentos.

Ele entra na minha vida exatamente nesse momento. Chega sorrateiro, fazendo investidadas na porta dos fundos para não ser percebido. Me deixa em constante dúvida, me ata os punhos e me cerra os lábios. Até meus dedos se calam. O que mais me inquieta não é o que ele fala. É o que ele cala. Não é a certeza de seu silêncio. É a dúvida pelos seus gritos. Não é a falta da entrega. É a ausência de espaços para investidas. E não falo de sexo, acreditem. Os quereres aqui vão muito além de dois corpos que se encaixam e o cintilar de estrelas acontece. Falo de alma, de permissividade, de partilha. Atesto o meu desconhecimento sobre o jeito certo para me fazer importante e, uma vez lá, dentro dele, perfumar o ar com aromas que ele jamais sentiu.

Ele me inquieta, irrita (só às vezes), desaponta e surpreende logo em seguida. Me arma com argumentações e me faz desistir delas. Se mostra rude, não responsivo ao que digo, a minha presença. Depois, me acorda pela manhã com uma frase preocupada sobre como estou, me chama de meu bem, segue meus passos contando os metros que nos separam, aceita meus convites para ensiná-lo a dançar, me deixa brigar sozinha (sem estressar e nem retrucar) e me ouve atento ao telefone, principalmente, quando disparo em riste minhas falas intercaladas.

Queria saber chegar nele. Sentar mesmo em seu colo de qualquer jeito certa de que ele me segura, me protege com os braços para que eu possa abracá-lo com minha alma. Ele me desperta a ambígua sensação de protetora e protegida, de mãe e filha, de tranquilidade e agitação, de paz e de guerra... um desejo diferente... sem pressa para provar a pele, mas insana por entender a aura. Talvez ele seja mais complexo do que imagino e acho que é isso que me estimula. De certa forma me desapontaria se ele não fosse complicado, ambíguo, mutante, incerto... eu preciso da inquietude e da sensação de ser importante para ficar, para desejar permanecer.

Há momentos em que ele chega tão doce e terno que amoleço, como se pudesse escorrer por entre seus dedos. Nesses momentos, tenho vontade de olhar para a cara brava, de traços fortes, de sorrisos que nunca aparecem e dizer "vai... me leva pra você... me toma de qualquer jeito e faz o que desejar: eu confio". Em outro ele chega monossilábico, me deixando esperar por suas respostas, sendo tão seco e turvo quanto as noites em desertos. Nessas horas, quero medir forças, testá-lo, bater de frente, responder a altura até que ele me desarme novamente como se já tivesse entendido que essa é a jogada que leva ao xeque mate.

Só por hoje, enquanto escrevo, queria ser a princesa dele, aquela que ele disse que não dorme, que briga, esperneia, mas que ele entende, carrega nos braços, coloca na cama e protege... queria dormir em seus braço, sobre sua proteção, vendo um sorriso terno surgir nos lábios, afastar meus cabelos da testa e beijar minha fronte enquanto fecho os olhos... depois, me aconchegar pelo do seu corpo e adormecer, sem hora para acordar, sem medo de estar errando e, com a certeza de que, ao acordar, ele estará lá me olhando, zelando e pronto para me beijar de novo ou para recomeçar nossas briguinhas em que eu falo e ele ouve e abranda tudo no final, seja porque ele nem me leva tão a sério assim, seja porque ele sabe, no fundo, que eu o quero bem. Carinhos sem explicação, incertezas, quereres e o mais completo compreensão incompreendida que senti na vida.

Que ele seja uma verdade cheia de defeitos... que ele jamais se torne perfeição repleta de mentiras. E, se me perguntares o que minhas entranhas me dizem sobre o amanhã, confesso: eu não sei mesmo o que dizer.

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quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Até Dezembro me Despertar





Ao meu Beijador de Passarinhos, DEDICO.
Trilha Sonora Sugerida "One and Only", versão Adele.



Acordei em meio ao silêncio do quarto e os poucos feixes de luz de faróis dos carros que cruzavam a avenida com destino desconhecido. Tentei me mexer um pouco para me nortear e entender aonde eu estava e vi seus braços envoltos em meus corpo despido e meu rosto enterrado em seu peito e tendo como proteção sua barba cheirosa. É, ele bem que tinha cumprido a promessa de me manter em seus braços e não me largar. Outrora pensaria bobagens... por ora, queria mesmo acreditar que aquilo era medo de me ver partir.
Dizem que quando algo começa com data e hora para ter um fim não nos resta muito a não ser aceitar a perfeição dos abraços e zelos e cuidados sem fim e nos preencher de uma força que felicidade pode trazer para quando tudo se despedaçar após a partida ou, talvez, amargar a mediocridade de imaginar o que poderia ter sido sem nunca descobrir o quão doce ou amargo pode ser o gosto do momento. Ele me chegou com essa proposta e com a cara deslavada de quem faz isso desde que se descobriu um solitário e eu precisei escolher. Cá estou... escolhi morrer de prazer de sua companhia visceral para chorar e me lamentar até a boca secar quando ele se for. Melhor voltar meus pensamentos para não pensar no fim antes mesmo do começo...
Tentei me desvencilhar um pouco para observar ao meu redor... uma única arandela acesa no cantinho, com uma luz amarela como ambar iluminando as roupas pelo chão, as taças de vinhos quase vazias e restos de comidinhas e peticos que trouxe para agradá-lo. Me perguntava mesmo porque eu deveria me esforçar para fazer qualquer coisa por alguém que em menos de 2 meses partiria e nem lembraria da minha existência. Perguntei-me, mais incrédula ainda, em qual momento do caminho deixei o meu bom senso para trás e me vesti com as roupas dos desbravadores corajosos e irresponsáveis.
O fato é que aquela barba perfeita cheirando a loção quando se esfregou em meu corpo provocou um blackout e nenhuma sinapse se concretizou a partir daí em mim. Olhar para aquele corpo de 1,91m distribuído em uma pele branca, cabelos negros e lisos, mãos incrivelmente sedutoras e o charme que só os homens que já passaram dos 30 anos possuem me fazia esquecer que o amanhã ainda chega. Acho mesmo que o meu medo não era da hora em que ele partirá, mas dos momentos em que desejarei aquela presença, o sexo que ele faz, a voz que me alegra e o colo que me acolhe e não terei.
Vou mesmo sentir saudades de sentar em suas coxas enquanto ele me segura pela nuca e pelas costas e eu esfrego meu sexo na sua calça. Vou surtar de vontade quando, nessas horas, eu não o tiver para me erguer do chão e me encostar em uma parede qualquer e me sentir absolutamente insana, protegida e amendrontada com o que pode vir, já que ele nada diz sobre si, apenas o que deseja de mim. Vou desejar cada milímetro de sua pele quando lembrar de sua cabeça enterrada entre as minhas coxas e de cada canto daquele quarto em um flat qualquer em que nossos corpos se enrroscaram por horas aparentemente intermináveis... e, nessas horas, eu peço para morrer naqueles instantes porque não quero mesmo sentir nada além disso... Ain... fico ofegante cada vez que penso e ele nem está aqui.
Às vezes acho mesmo que quando ele se for, vai lembrar por dias dos dias vividos aqui e vai sentir saudade. Muitas vezes vai rir sozinho, do nada, ao lembrar dos meus destemperos, bobagens e das coisas engraçadas que falo como fechas lançadas ao acaso. Em outros, vai sentir o coração apertar quando as imagens dos meus afagos, carinhos, zelos e mimos se fizerem moradia e, talvez, assim espero, que um desejo enorme de pegar o primeiro avião o preencha e ele venha ter comigo... mas, tenho absoluta certeza que ele jamais esquecerá de nossas noites com corpos grudados, molhados de suor, de saliva, do meu prazer, do dele, do nosso, e passará a mão por cima da calça e lembrará que não estou. E, quando tudo apertar, que ele pegue mesmo o avião que chegará mais rápido porque eu estarei esperando ainda mais louca de desejo e de vontade de olhar naqueles olhos novamente e me me dissolver naquela mistura de mistério e encanto que é esse desconhecido.
Agora, enquanto escrevo e penso que cheiro ele tem nesse momento, no que pensa, pelo o que anseia, sou desejo e medo por sua chegada e saudade e angústia me antecipando a sua partida. Mas, quero que ele venha... que me embriague com cada gole de vinho que prometeu. Que me abrace por cada vez que me falou. Que me conte suas histórias falando no meu ouvido. Que me deixe assistir os filmes que me perguntou que quero ver, deitada em seu peito e entre suas pernas. Que me beije e me faça mesmo acreditar que aquela é a última boca e língua que desejarei na vida. Que me ame deitado sobre o meu corpo, me deixando sentir seu peso e me segurando pelos cabelos, enquanto me olha nos olhos e me chama de SUA.


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sábado, 10 de setembro de 2011

A Fantástica História de Jack e Sally


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Ao meu Jack, DEDICO.
Trilha Sonora Sugerida "Little Wing", versão The Corrs




Dizem que as histórias de amor e de amizade surgem do acaso. Por vezes de desencontros, de tropeços, de peças que o destino nos prega. A história que vou lhes contar, nobre leitor, é um desses contos de fadas que nos enche de inspiração e nos faz sentir a glória dos sentimentos que surgem do nada e que vão nos preenchendo até se tornarem parte de nossa alma... É assim a história de Jack e Sally...



Jack surgiu para Sally como uma dessas promessas de um "olá" seguido de um "até logo". Ela, com seus cabelos vermelhos como o fogo que gera calor e abranda a inquietação dos corações gelados, não imaginava que naquela noite sombria em que estava perdida na cidade fria e esquecida no quarto escuro, conheceria um cavaleiro andante e abusado perdido em um corpo contrastante de paz. Sally é a personificação do muito escancarado: sorrisos, choros, sentimentos, desejos, vontades, intensidade e coração. Jack é essa versão pelo avesso: tudo guardado a sete chaves, escondido e só partilhado com quem toca seu coração. Ele, alto, magro, com olhar desconfiado, mãos gentis e gestos leves. Ela, baixinha, roliça, com olhar penetrante e mãos firmes e gestos fortes. Desconfio que seja justamente isso que faria com que, mais tarde, em outra dessas noites levadas pelo acaso, as mãos deles se encontrassem em gestos que marcariam suas vidas para sempre.

Não sei mesmo se na presença de outros Jack era de riso tão fácil quanto quando Sally está por perto. Também não sei se Sally é tanta segurança se estiver na mesma situação. Quando eles estão juntos é como se brincassem pulando entre nuvens: tudo é leve, nada é proibido e cada coisa é partilhada espontaneamente como as frases engraçadas que surgem dela e os sorrisos gostosos que partem dele. Quando ele surge, em cada fim de noite, e ensaia um "buhhhh", ela finge supresa, mas estava ali há horas esperando por ele para contar suas aventuras durante o dia. Há dias em que ela fala sem parar. Em outros, que chora. E, na maior parte deles, ela nem sente mesmo o que está fazendo porque tudo brota de dentro de seu coração como uma flor do campo emerge do solo depois de uma noite de tempestade.

No dia em que eles se encontraram pela primeira vez, era como se o universo tivesse preparado tudo com a leveza, tão própria dele, e a intensidade, característica mais marcante dela. O medo dela era de que aquele encontro pudesse ser o começo do fim. O dele, se existiu, nem eu mesma saberei, porque ele não deixou transparecer. Quando ela sentou-se ao seu lado naquela noite escura e sem lua e rumaram ao destino que os esperava, Sally nem ousou olhar nos olhos de Jack com medo de ver decepção e um adeus anunciado ali. Ela queria mesmo fazer tudo certo, dizer as coisas mais bonitas para que ele tivesse vontade de ficar ali e nunca mais ir embora.

Ela olhou pra Jack e entendeu de onde vinha toda aquela paz. Jack era claro como o sol do nascer do dia. "Lindo, lindo, lindo", ela pensou, e ao ver suas mãos, ela as quis em seu rosto, mas Sally jamais pediria nada. Seu medo de não ser merecedora daquele Jack era imenso agora e tudo poderia se perder a qualquer momento. Jack, por sua vez, parecia que sempre esteve ali. Que Sally era parte das suas manhãs e noites, tão espontâneo foi quando se prostrou diante dela. Acho mesmo que ele estava um tanto quanto nervoso, mas ele não quis que ela percebesse.

Enquanto ele estava deitado, entregue aos toques dela, Sally olhava para os contronos dele e seu coração se acelerava. Tudo aquilo era completamente novo para ela: a noite, a presença e todas aquelas sensações. Então, quando Jack a tocou e a fez sentir que era ele que cuidaria dela naquelas próximas horas, ela não relutou. Pela primeira vez na vida Sally fechou os olhos e dançou guiada por alguém sem sentir medo. Ela não sabia dar nome a todas as sensações que a invadiram. Só fechou os olhos e as sentiu... Jack era mais do que um sonho para Sally, porque de sonhos todos nós acordamos: ele era realidade.

Daquela noite sem lua e sombria, Sally vai lembrar de tudo. Não perguntei ao Jack do que ele se lembrará. E, por mais que você, nobre leitor, queira saber o que aconteceu naquele espaço de sonhos e realidade, eu não ousaria ir adiante nesse relato. Acho que o Jack não gostaria e tenho certeza que a Sally quer mesmo guardar tudo para si. Não sei mesmo o que acontecerá com eles a partir daí, mas, uma coisa é certa: Sally é verdadeiramente feliz quando Jack está por perto. Jack é encantadoramente livre quando Sally segura suas mãos. A História deles é como um desses contos em que tudo pode acontecer, mas que a gente torce por um final feliz antes dos créditos e do "The End"se projetarem na grande tela da vida.

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sábado, 20 de agosto de 2011

Meu Corpo é Dele




Ao meu Samurai, DEDICO.
Trilha Sonora Sugerida "Set Fire to the Rain", versão Adele.



[...] madrugada fria...
Pensar e observar o que está posto ao nosso redor quando uns graus Celsius são retirados do ar ambiente é mais contemplativo... naquela madrugada, naquele lugar, com aquela luz se fazendo um feixe discreto escapando para dentro do quarto por uma frestra da persiana, a temperatura baixa seria uma segunda pele açoitando meu rosto, mãos e pés. Ele estava deitado na cama, despido, envolvo por uns poucos centímetros de lençol que cobria-lhe parte das coxas. Contemplar aquele homem nu, entregue, silencioso em seu sono descuidado, era como passear por uma enseada. Pensei que contemplação fosse a palavra mais adequada já que há muito de divino nela e, consequentemente, na perfeição do desenho de seu corpo, boca, olhos e tudo o mais que se lança desaforadoramente para os que cruzam seu caminho. Com um pouco mais de lascividade, os resultados seriam sexos úmidos e paus em ristes para os desavisados que o veem pela primeira vez. Ele é obscenamente delicioso. Cada centímetro de pele dele cobre um outro centímetro de luxúria. Ele implora sexo na maneira como caminha, como dança, como movimenta os braços, como grita um palavrão dos mais politicamente e aceitavelmente corretos aos mais retaliadamente refutados. E ele tem aquele cheiro bom de homem que a gente arfa enquanto abraça, transa ou simplesmente se está perto para captar quais as notas de almíscar, canela, carvalho e pele estão presentes. Ele não é um homem para se comer com 200 talheres, porque essas duas centenas só levam o baquete à boca. Ele é o tipo de homem perfeito para ser devorado com talheres e toda a prataria sofisticados deixados no armário. Requinte não é pra ele. Mãos, boca, pés, braços, seios, saliva e dentes são mais adequados e nem há de se pensar em infringir as boas regras da etiqueta.
Enquanto pensava em todas essas coisas, ele se mexeu. Mudou de posição e agora o que ficava visível era seu sexo e o peito, com o feixe de luz apontado para seu rosto. Uma cena poética, pensei. Um tanto de homem e outro de menino. De santidade e de pecado. De me devora e de me abraça. Um contraste inquietante. Na minha divagação, não medi o tempo. Nem o barulho que eu podia estar fazendo. Nem o quanto mais a temperatura caia. Queria sentir aquele homem e, ao mesmo tempo, nada fazer. Queria de novo aquele beijo entre línguas e harmônico que demos outro dia, de maneira súbita, com mão na nuca entre fios de cabelo. Mas também só tocar seus lábios e captar um resquício de saliva que tivesse ficado ali. Nem sei se queria aquele homem entre as minhas pernas se fazendo um peso vivo e inquietante, mas o queria envolto em meu corpo para dormirmos e aquele frio passar.
Ali, prostrado diante de mim, havia tudo isso e mais uma infidade de coisas que eu não saberia descrever. Mas, as duas coisas mais importantes e lindas que hão nele estavam silenciadas. Os olhos semi-cerrados e brilhosos que despontam cada vez que a felicidade brota de seu poros é algo indescritível, assim como a boca e o sorriso escancarado de quem é feliz e sabe ser feliz. Naquele momento, ao lembrar de seus olhos e sorriso enquanto ele dança, ri baixinho. Pensei que eu poderia ficar ali a noite toda só observando essas coisas, mas, ele acordou num lampejo de movimento. Não se mexeu ou se cobriu ou fez algo brusco. "Há quanto tempo você está aqui?", perguntou. "Tempo suficiente pra te olhar, analisar, enxergar", respondi. "E a que conclusão chegou?", me ingadou. Parei por um instante e pensei o que deveria responder e optei pela delicadeza de sua alma.
"[...] que és lindo. Que tens uma doçura e uma lealdade emergindo dos teus poros que posso rastrear a quilômetros. Que há muito de divino e de maldito em você e que é esse contraste a tua beleza. Que você não é feliz todo o tempo porque nem sempre tem o que deseja e porque há uma inquietude da tua alma de nunca se satisfazer com o que está posto, pronto, óbvio, mas que você sabe exatamente aproveitar os momentos em que tua guerra interna se abranda e a gente enxerga esse acordo de paz interno na tua felicidade estampada com direito a cartão de visistas. Que você é sexo sempre, e muito, e tanto e sempre, mas, sobretudo, é amor numa proporção indizível. Que você é homem e menino. Certezas irrevogáveis e dúvidas cruciais. Que você é a arte de cuidar e entrega para ser cuidado. Que você é o beijo delicioso e o abraço acolhedor. Que você é extremos procurando o meio-termo, mesmo sem ter certeza de que deseja encontrá-lo e de que estar no prumo é tua salvação".
Ele se levantou com os olhos marejados. Não sei se nada disse por não saber ou não conseguir dizer. Me tomou pelas mãos e me abraçou despido. Abraçou com uma força que me deixou sem ar, me apertando contra o peito, coxas e me segurando pela nuca como se esperasse que pudesse me guardar dentro de si se imprimisse mais força. Me segurou pelas têmporas e olhou dentro dos meus olhos com o cenho franzido e, naquele minuto, senti medo por não saber o que ele pensava. Me fitou por quase um minuto e me beijou com lábios entreabertos e olhos vidrados. Não reagi simplesmente por não saber o que fazer. Parado em minha frente ele me despiu tirando cada peça de roupa com pouca delicadeza enquanto me olhava nos olhos e eu sabia que não havia lascividade alguma no seu ato, por isso mesmo, meu medo: eu não imaginava o que ele estava fazendo ou pensando. Quando terminou, se prostrou diante de mim e me disse: "sou teu muito mais do que fui de qualquer outra pessoa nessa vida, porque foi você quem me virou do avesso para me ler nas entranhas". Quando ele terminou, eu havia entendido o que tudo aquilo significava. O puxei pelas mãos e conclui: "sou tua porque nunca houve alguém que tenha me despido e me olhado de frente, sem pensar em nada a não ser no momento, no amor e na amizade como você acabou de fazer. Sou tua porque há formas de amor que são incompreensíveis quando a gente encontra um pedaço de nós em um desconhecido e passa a se reconhecer nele. Sou tua porque sei que aqui, diante de mim há, para além de qualquer maldade, um amor de verdade, uma alma similar e um carinho de irmãos".
O tomei pelas mãos mais uma vez, carreguei para cama e deitei. Senti o peso do seu corpo sobre as minhas costas, pele com pele, seu sexo repousado nas minhas nádegas e coxas, e o frio daquela noite ir se abrandando e adormeci sentido sua respiração no meu ouvido e o estalar de beijos eventuais na minha bochecha...