terça-feira, 8 de novembro de 2011

Muito além do Querer




Ao meu Diamante, DEDICO.
Trilha Sonora Sugerida "Make you feel my Love", versão Adele



Há muitas formas de se tocar alguém... Pessoas são mesmo parecidas com tecidos: umas mais delicadas, permeáveis, outras mais resistentes. O mistério parece ser, apenas, achar o ponto certo para não afogar ou deixar desidratar até a morte. Para pessoas inábeis como eu com as palavras, os gestos, com os afetos, essa busca é como desbravar mares revoltos em uma jangada de jacarandá. E agora falo sobre mim, na primeira pessoa do singular, pessoa física. Adoro minha liberdade de expressão, de falar e sentir sem muita responsabilidade sobre os meus afetos dando a eles o peso que eles devem ter: o do ar. Em outros tempos achei que essa era uma má idéia. Hoje aprendi que o sentir é como estar no meio de um vendaval contemplando o horizonte com os pés fincados na areia e as ondas se lançando contra a rebentação e achar que tudo, embora caótico, seja perfeito já que os cabelos ficam em desalinho rodopiando como uma bailarina na caixa de música e as roupas leves sacodem como as velas de um barco perdido em alto mar. E, tem sido assim a minha vida desde que o caos se fez, as trevas se dissiparam e eu sentei no chão por meses procurando o jeito certo, a força e a coragem para recomeçar e remontar cada pedaço destroçado da minha vida.

Nesse meio tempo muita gente passou pelo porto da minha ilha deserta. Umas tantas ficaram, outras partiram, muitas se fizeram moradia e minhas lacunas foram sendo preenchidas por aquilo que eu mais senti e depois, eu eu mais neguei: o amor. Venho sendo amada das mais diversas formas, com as mais profundas e superficiais intensidades, os mais complexos tons, gostos e cheiros e pelas mais diferentes pessoas. Precisaria me debruçar sobre o chão, no mais respeitoso tom de reverência possível para agradecer ao universo cada remédio que ele me deu para curar as feridas que a vida me causou. Talvez mais importante que isso, contudo, seja reconhecer que eu precisei sentir a mais mutilante das dores para entender qual é o mais importante dos sentimentos.

Ele entra na minha vida exatamente nesse momento. Chega sorrateiro, fazendo investidadas na porta dos fundos para não ser percebido. Me deixa em constante dúvida, me ata os punhos e me cerra os lábios. Até meus dedos se calam. O que mais me inquieta não é o que ele fala. É o que ele cala. Não é a certeza de seu silêncio. É a dúvida pelos seus gritos. Não é a falta da entrega. É a ausência de espaços para investidas. E não falo de sexo, acreditem. Os quereres aqui vão muito além de dois corpos que se encaixam e o cintilar de estrelas acontece. Falo de alma, de permissividade, de partilha. Atesto o meu desconhecimento sobre o jeito certo para me fazer importante e, uma vez lá, dentro dele, perfumar o ar com aromas que ele jamais sentiu.

Ele me inquieta, irrita (só às vezes), desaponta e surpreende logo em seguida. Me arma com argumentações e me faz desistir delas. Se mostra rude, não responsivo ao que digo, a minha presença. Depois, me acorda pela manhã com uma frase preocupada sobre como estou, me chama de meu bem, segue meus passos contando os metros que nos separam, aceita meus convites para ensiná-lo a dançar, me deixa brigar sozinha (sem estressar e nem retrucar) e me ouve atento ao telefone, principalmente, quando disparo em riste minhas falas intercaladas.

Queria saber chegar nele. Sentar mesmo em seu colo de qualquer jeito certa de que ele me segura, me protege com os braços para que eu possa abracá-lo com minha alma. Ele me desperta a ambígua sensação de protetora e protegida, de mãe e filha, de tranquilidade e agitação, de paz e de guerra... um desejo diferente... sem pressa para provar a pele, mas insana por entender a aura. Talvez ele seja mais complexo do que imagino e acho que é isso que me estimula. De certa forma me desapontaria se ele não fosse complicado, ambíguo, mutante, incerto... eu preciso da inquietude e da sensação de ser importante para ficar, para desejar permanecer.

Há momentos em que ele chega tão doce e terno que amoleço, como se pudesse escorrer por entre seus dedos. Nesses momentos, tenho vontade de olhar para a cara brava, de traços fortes, de sorrisos que nunca aparecem e dizer "vai... me leva pra você... me toma de qualquer jeito e faz o que desejar: eu confio". Em outro ele chega monossilábico, me deixando esperar por suas respostas, sendo tão seco e turvo quanto as noites em desertos. Nessas horas, quero medir forças, testá-lo, bater de frente, responder a altura até que ele me desarme novamente como se já tivesse entendido que essa é a jogada que leva ao xeque mate.

Só por hoje, enquanto escrevo, queria ser a princesa dele, aquela que ele disse que não dorme, que briga, esperneia, mas que ele entende, carrega nos braços, coloca na cama e protege... queria dormir em seus braço, sobre sua proteção, vendo um sorriso terno surgir nos lábios, afastar meus cabelos da testa e beijar minha fronte enquanto fecho os olhos... depois, me aconchegar pelo do seu corpo e adormecer, sem hora para acordar, sem medo de estar errando e, com a certeza de que, ao acordar, ele estará lá me olhando, zelando e pronto para me beijar de novo ou para recomeçar nossas briguinhas em que eu falo e ele ouve e abranda tudo no final, seja porque ele nem me leva tão a sério assim, seja porque ele sabe, no fundo, que eu o quero bem. Carinhos sem explicação, incertezas, quereres e o mais completo compreensão incompreendida que senti na vida.

Que ele seja uma verdade cheia de defeitos... que ele jamais se torne perfeição repleta de mentiras. E, se me perguntares o que minhas entranhas me dizem sobre o amanhã, confesso: eu não sei mesmo o que dizer.

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