quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Até Dezembro me Despertar





Ao meu Beijador de Passarinhos, DEDICO.
Trilha Sonora Sugerida "One and Only", versão Adele.



Acordei em meio ao silêncio do quarto e os poucos feixes de luz de faróis dos carros que cruzavam a avenida com destino desconhecido. Tentei me mexer um pouco para me nortear e entender aonde eu estava e vi seus braços envoltos em meus corpo despido e meu rosto enterrado em seu peito e tendo como proteção sua barba cheirosa. É, ele bem que tinha cumprido a promessa de me manter em seus braços e não me largar. Outrora pensaria bobagens... por ora, queria mesmo acreditar que aquilo era medo de me ver partir.
Dizem que quando algo começa com data e hora para ter um fim não nos resta muito a não ser aceitar a perfeição dos abraços e zelos e cuidados sem fim e nos preencher de uma força que felicidade pode trazer para quando tudo se despedaçar após a partida ou, talvez, amargar a mediocridade de imaginar o que poderia ter sido sem nunca descobrir o quão doce ou amargo pode ser o gosto do momento. Ele me chegou com essa proposta e com a cara deslavada de quem faz isso desde que se descobriu um solitário e eu precisei escolher. Cá estou... escolhi morrer de prazer de sua companhia visceral para chorar e me lamentar até a boca secar quando ele se for. Melhor voltar meus pensamentos para não pensar no fim antes mesmo do começo...
Tentei me desvencilhar um pouco para observar ao meu redor... uma única arandela acesa no cantinho, com uma luz amarela como ambar iluminando as roupas pelo chão, as taças de vinhos quase vazias e restos de comidinhas e peticos que trouxe para agradá-lo. Me perguntava mesmo porque eu deveria me esforçar para fazer qualquer coisa por alguém que em menos de 2 meses partiria e nem lembraria da minha existência. Perguntei-me, mais incrédula ainda, em qual momento do caminho deixei o meu bom senso para trás e me vesti com as roupas dos desbravadores corajosos e irresponsáveis.
O fato é que aquela barba perfeita cheirando a loção quando se esfregou em meu corpo provocou um blackout e nenhuma sinapse se concretizou a partir daí em mim. Olhar para aquele corpo de 1,91m distribuído em uma pele branca, cabelos negros e lisos, mãos incrivelmente sedutoras e o charme que só os homens que já passaram dos 30 anos possuem me fazia esquecer que o amanhã ainda chega. Acho mesmo que o meu medo não era da hora em que ele partirá, mas dos momentos em que desejarei aquela presença, o sexo que ele faz, a voz que me alegra e o colo que me acolhe e não terei.
Vou mesmo sentir saudades de sentar em suas coxas enquanto ele me segura pela nuca e pelas costas e eu esfrego meu sexo na sua calça. Vou surtar de vontade quando, nessas horas, eu não o tiver para me erguer do chão e me encostar em uma parede qualquer e me sentir absolutamente insana, protegida e amendrontada com o que pode vir, já que ele nada diz sobre si, apenas o que deseja de mim. Vou desejar cada milímetro de sua pele quando lembrar de sua cabeça enterrada entre as minhas coxas e de cada canto daquele quarto em um flat qualquer em que nossos corpos se enrroscaram por horas aparentemente intermináveis... e, nessas horas, eu peço para morrer naqueles instantes porque não quero mesmo sentir nada além disso... Ain... fico ofegante cada vez que penso e ele nem está aqui.
Às vezes acho mesmo que quando ele se for, vai lembrar por dias dos dias vividos aqui e vai sentir saudade. Muitas vezes vai rir sozinho, do nada, ao lembrar dos meus destemperos, bobagens e das coisas engraçadas que falo como fechas lançadas ao acaso. Em outros, vai sentir o coração apertar quando as imagens dos meus afagos, carinhos, zelos e mimos se fizerem moradia e, talvez, assim espero, que um desejo enorme de pegar o primeiro avião o preencha e ele venha ter comigo... mas, tenho absoluta certeza que ele jamais esquecerá de nossas noites com corpos grudados, molhados de suor, de saliva, do meu prazer, do dele, do nosso, e passará a mão por cima da calça e lembrará que não estou. E, quando tudo apertar, que ele pegue mesmo o avião que chegará mais rápido porque eu estarei esperando ainda mais louca de desejo e de vontade de olhar naqueles olhos novamente e me me dissolver naquela mistura de mistério e encanto que é esse desconhecido.
Agora, enquanto escrevo e penso que cheiro ele tem nesse momento, no que pensa, pelo o que anseia, sou desejo e medo por sua chegada e saudade e angústia me antecipando a sua partida. Mas, quero que ele venha... que me embriague com cada gole de vinho que prometeu. Que me abrace por cada vez que me falou. Que me conte suas histórias falando no meu ouvido. Que me deixe assistir os filmes que me perguntou que quero ver, deitada em seu peito e entre suas pernas. Que me beije e me faça mesmo acreditar que aquela é a última boca e língua que desejarei na vida. Que me ame deitado sobre o meu corpo, me deixando sentir seu peso e me segurando pelos cabelos, enquanto me olha nos olhos e me chama de SUA.


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