segunda-feira, 19 de julho de 2010

O Outro [Dust in the Wind]


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Ao "Dust in The Wind" que ainda não consegui Decifrar
DEDICO
Sugestão de Fundo Musical: Dust in The Wind [Scorpions]




Noite de Lua Cheia. Sentada na areia do meu Santuário, esfreguei os pés nas pequenas gotículas sólidas que envolviam minha pele e dedos. A Lua, que nesta noite se lançava nos mais diversos tons de dourado, acariciava a água que parecia se incomodar porque hostentava pequenas e furiosas ondas que se degladiavam no médio mar, formando arabescos que se se uniam, separavam e voltavam a se unir formando uma espuma discreta.
Ele chegou. Dust in the Wind. Envolveu meu corpo com tons mornos, inundando meus poros com um sabor salgado. Revirou meus cabelos, sacodiu minhas roupas. Fechei os olhos para sentir. Quando não consigo ver o que me toca, apago as luzes ao meu redor. Encontrei paz vindo do barulho que emanava dele. Silêncio... Silêncio.... Paz!
Há quanto tempo não me perdia em mim mesma porque meus fantasmas fixaram moradia nas minhas manhãs e no meu sono, ocupando meus ouvidos, memórias com uma insitência indelicada. Dust in the Wind... Silêncio... O mar aquietando-se, meus olhos fechados, o calor morno me envolvendo, o tom dourado... Silêncio. Cabelos revirados, roupas desalinhadas, sorriso nos lábios. Dust in the Wind.
Olhei para Ele e nada vi. Supus doçura, porque era assim que Ele me tocava. Imaginei proteção, porque era assim que ele me olhava. Rezei por honestidade, porque era assim que eu precisava. Desejei afeto, porque era isso que me acalmava. Implorei por verdades e continuei não vendo nada.
Queria sentir. Não nos cabelos, na pele. Queria furacão vasculhando minhas entranhas, se fazendo parte de mim, esmiuçando minhas células, me impregnando daquilo que eu não entendo, mas que queria enxergar para entender.
Dust in the Wind.
Ele tocou meu rosto, olhou nos meus olhos. Disse que era verdade. Pediu confiança. Queria sentar ao meu lado e segurar minha mão. Silêncio longo... paz gostosa de sentir... calor que afaga, olhos que aquecem. Dust in the Wind.
Antes que Ele fosse embora, abri meus olhos e desisti de entender. Deixei que ele tocasse minhas mãos, que se fizesse companhia. Contemplei a noite e o vi se afastar. Ele não foi egoísta, pois deixou o silêncio comigo. Tudo o que precisava e que ele jamais soube que era o que eu mais procurava. Dust in the Wind era sinônimo de mistério. Mas, o que era tão importante no mistério que poderia me fazer recuar e me afastar da paz?
Dust in the Wind. Talvez por isso tão assavalador na sua singeleza e delicadeza. O meu tormento agora era a paz.
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sexta-feira, 16 de julho de 2010

Das Entranhas - Lasciva





[...] naquela noite ela saiu de casa sem intenção alguma. Queria bebericar qualquer coisa entre o amargo e o doce. Entrou no velho de bar de sempre, sentou-se na mesma mesa. Remexeu na agenda do celular para ver quem poderia fazer companhia. Seriam conversas entediantes ou os mesmo assuntos de trabalho. Ela não precisava disso...
Ainda era segunda-feira e ela já se sentia imersa em todas as “feiras” que os dias de semana têm. Olhou ao redor e nada interessante. Pediu um vinho do porto... adorava a sensação adocicada e densa do vinho gelado deslizando entre a língua e escrevendo o caminho até o estômago. Cruzou as pernas e ficou observando alguns minutos os sapatos... nem ela mesma acreditava que um par daquelas coisas pudesse custar tão caro. Olhou as unhas... retocou a maquiagem ali mesmo na mesa, entre uma pincelada de rímel e outra de batom. Refletido no canto esquerdo do espelho da maquiagem ela percebeu um garoto a observando. 20... 24 anos... não mais que isso. Calça jeans, camiseta preta justa no corpo e boné. Sentado em uma cadeira alta, ele ergueu uma taça em direção a ela. Sem nenhum tato, ela virou-se. Observou aquele menino de cima a baixo, apreendendo cada detalhe. Pensou nas possibilidades...

“[...] de repente, não mais que de repente, os dedos dele se enovelaram entre os cabelos dela. Que ousadia, ela pensou. Fiz escova hoje. Quem esse garoto pensa que é. De fato, talvez nem ela mesma estivesse preocupada com isso. Ele não disse absolutamente nada, apenas segurou seu rosto e a beijou. Um beijo forçado, entre línguas, com corpos comprimidos contra uma parede. Relutando nas suas intenções de sair dali, mas sem nenhuma vontade física de fazê-lo, ela esboçou uma reação. E antes que ela pudesse fazer alguma coisa, as mãos dele deslizavam pelas coxas dela, tornando-se uma interface entre sua pele e a saia. Numa reação instantânea ela segurou as mãos dele. Ele a olhou... só olhou. A apertou ainda mais contra a parede e ela deu um gemido baixinho, mas, audível o suficiente para acender o alarme dele. Ele sabia que as cartas estavam na mesa... ela sabia que aquele era um caminho sem volta. Com uma agilidade indescritível ele a virou. Agora ela podia sentir o peito dele em suas costas, seus quadris encaixado nos dele. Ela não relutou mais... fechou os olhos... arfou... sentiu o chão desaparecer e quando pensou em perder os sentidos, sentiu suas mãos serem apertadas contra a parede acima da cabeça e outra deslizar por sua nuca, puxando seus cabelos para cima. Ele seu aproximou... insinuou um beijo, uma mordida e recuou. Ela tentou imaginar o que ele estaria pensando... teve vontade de implorar, mas, nada disse. Ele tentou novamente, mas, dessa vez deslizou a língua pela nuca, mordeu levemente a orelha. A boca dela salivava... queria aquela língua com força em sua boca, mas, novamente calou-se. Ainda sem dizer uma palavra sequer, ele soltou os pulsos dela, que esmaeceu. De olhos fechados, não esboçou nenhuma reação. Ele subiu a saia até a altura da cintura, puxou a calcinha e num golge rápido, que a fez balançar, rasgou-a. Seus pedaços caíram no chão instantaneamente e, do que sobrou dela, só era possível ver alguns fragmentos de renda preta. Ele puxou a blusa de seda branca e passeou com seus dedos em seu corpo, apertando os seios dela com força até sentir a pele eriçada. Ela, já completamente entregue e com a voz embargada, pediu: faz! Ele mordeu-a com força... mais uma vez ela implorou: faz, por favor, faz!
Num estalido causando por uma taça que quebrou na mesa ao lado, ela saiu do transe. Voltou-se para a sua mesa e afastou aqueles pensamentos. Ergueu a taça de vinho do porto na direção dele e degustou com prazer o último resíduo de vermelho ocre. Largou uma nota de vinte reais na mesa e saiu. Ele é só um garoto... só um garoto! A última coisa que ela precisava naquela segunda-feira era um problema de vinte e poucos anos e um par de olhos verdes que a deixaram trêmula a ponto de precisar firmar os passos antes de entrar no carro e voltar para casa com uma garoa tímida que acoitava os vidros do carro.
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